Pós-Parto: as mudanças físicas que deve esperar

Comecemos este artigo da seguinte forma: a barriga que demorou nove meses a crescer, não desaparece em meia dúzia de horas. Nem de dias. Possivelmente, demorará alguns meses. Se ainda está desse lado a ler-nos, dizemos-lhe que há que aceitar este processo com calma e naturalidade porque nenhum corpo é igual e esta é a regra e não a exceção, como acontece algumas vezes.

É difícil, porém, aceitar este processo. Seja pela já falada pressão social, pelos exemplos que seguimos nas redes sociais ou, simplesmente, porque já nem nos lembramos do que é vestir aquela roupa que usávamos há uns meses. Aliás, o mais estranho neste processo é a roupa que tínhamos antes da gravidez não nos servir e a que usámos durante os nove meses nos estar larga. Não questionem, respirem fundo e aceitem. Com o tempo tudo voltará ao sítio, incluindo o desaparecimento da flacidez abdominal.

Se a gravidez foi um período de desenvolvimento, o pós-parto será de adaptação e regresso ao que foi o corpo antes de gerar uma criança. O impacto será grandioso e avassalador. Se, por um lado, a alegria imensa de ter o filho nos braços é indescritível, por outro, o sentimento de novidade e o constante pensamento “e agora?” conseguem fazer da pessoa mais calma, a mais nervosa ao cimo da terra. As hormonas - são sempre elas - vão pregar-lhe partidas e é bem possível que se sinta triste, deprimida e sozinha, por muito estranho que lhe pareça. Respeite esse processo e aceite-o. Apoie-se na sua rede familiar e aceite ajuda.

Segundo a American Pregnancy Association, é normal sentir tudo isto nas primeiras semanas após o nascimento do bebé. Chamam-lhe baby blues e deverá estar apenas atenta a uma situação: quando este sentimento não desaparece depois do primeiro mês. Nesse caso, deverá falar com o seu médico assistente e ficar alerta para evitar uma possível depressão pós-parto que, aliás, é bem mais frequente do que aquilo que, infelizmente, se fala. Talvez por medo de serem julgadas, as recém-mamãs escondem esta sua realidade dos demais. Afinal, a sociedade impõe-nos a perfeição e a maternidade como o melhor do mundo com salpicos de cor-de-rosa. Deixe isso de lado. A coragem está em aceitar e falar das coisas como elas são.

Durante as primeiras seis semanas, período denominado de puerpério, vai ainda sentir o seu corpo a recuperar. Nos primeiros tempos, principalmente ao amamentar, caso seja o seu caso, vai sentir ligeiras contrações. É o útero a regressar ao seu tamanho normal, num processo denominado como “involução uterina”. Terá perdas de sangue durante esse primeiro mês e as relações sexuais devem ser evitadas até ordem médica em contrário. O seu corpo está a recuperar e tem de ser respeitado.

Sentirá ainda, sensivelmente ao segundo dia pós-parto, o peito a enrijecer e a aquecer. Este processo muitas vezes desconfortável e a que frequentemente se chama a subida do leite, pode ser atenuado aplicando uma compressa morna nos seios ou massajando-os durante o duche. Outra coisa que poderá fazer é amamentar sempre que o seu bebé pedir e não apenas a cada 3 horas.

Para quem teve um parto normal, haverá um desconforto na zona íntima provocada pelo esforço e, em alguns casos, pelos pontos a que foram sujeitas, a episiotomia. Nestes casos, recomenda-se a aplicação de compressas frias na região. Muitas vezes, na maternidade, são dados às recém-mamãs preservativos cheios de gelo para que possam encostá-los à região íntima, de modo a atenuar o desconforto. O paracetamol a cada seis horas é outro aliado nesta fase de recuperação da lesão. A boa notícia é que assim que os pontos forem retirados, cerca de 5 a 6 dias após o parto, tudo fica melhor e rapidamente se esquece que alguma vez sentiu tal desconforto.

Nos casos em que é feita uma cesariana, a cicatriz deve ser verificada diariamente e os pontos, por norma, são retirados passada uma semana.

Caso decida amamentar o seu bebé, a sua menstruação não deverá aparecer tão cedo. Se não amamentar, a menstruação regressará mais rápido, cerca de um a dois meses após o parto. Será do seu interesse falar com o seu obstetra ou ginecologista sobre os métodos contracetivos. disponíveis após o parto. Geralmente, na maioria dos casos, é sugerida a pílula da amamentação, cuja toma é diária e sem interrupções.

Outra coisa que, possivelmente, nunca lhe disseram é que os músculos da bexiga ficam mais fracos e é normal que tenha algumas perdas de urina ao fazer determinados esforços como tossir ou espirrar. Evite saltar ou correr durante os primeiros seis meses porque, estes tipos de exercícios também são propícios à perda de urina. Nunca deixe de fazer os exercícios de exercícios de Kegel (contrair e descontrair os músculos perineais), são essenciais à recuperação da musculatura.

Cada mulher tem um período de recuperação muito próprio e não é possível fazer uma cronologia com tempos certos para a recuperação. O que lhe podemos dizer é que todos os passos devem ser levados a sério para evitar complicações ou demoras no regresso à normalidade. Um conselho que temos para si é que siga o seu instinto e, se vir que algo de errado ou anormal se passa com o seu corpo, fale de imediato com o seu obstetra. Não ignore os sinais do seu corpo e, acima de tudo, lembre-se que nenhuma pergunta é “tonta”. Respeite-se!