Tirar o pijama
Numa entrevista que dei dez meses após o nascimento da minha filha, perguntaram-me se eu achava que estava à altura da tarefa e das respetivas responsabilidades que ela implicava. Incrédula, respondi, “Pede-me para vir aqui, onde existe uma estrutura, nítida comunicação verbal que não implica choro ou suposições, e está a perguntar-me se eu vou dar conta do recado?”
Ele não fazia a mínima ideia dos obstáculos frequentemente hilariantes e hercúleos que eu tivera de ultrapassar nos últimos meses, o primeiro do qual foi deixar de andar de pijama.
Antes de ter o bebé, idealizava o aspeto que eu iria ter quando fosse mãe. Apercebi-me posteriormente que a minha esperança de ser uma mãe completamente arranjada era vagamente irreal. As manhãs eram caóticas, já tinha dificuldade em conseguir tomar banho, quanto mais arranjar-me: era inevitável, assim que deixava o bebé no berço e fechava a cortina para tomar banho, ele começava a gemer. Acabei por perceber que se queria ficar perto daquilo que tinha idealizado, o que tinha de fazer era acordar mais cedo e ir para o banho antes do pai do meu bebé, para assim poder fazer a minha rotina matinal com mais calma.
Outra lição foi a operação militar de pôr tudo e todos fora de casa ao mesmo tempo. Às vezes só tinha o bebé, outras tinha o bebé no carrinho com a minha mala. Por vezes tinha as chaves, o bebé, mas não tinha o carrinho, nem fraldas adicionais. Era frequente dirigir-me para a porta, parar e perguntar-me por que razão estava a sair de casa? Acabei por colar uma lista junto à porta.
Tal como a desajeitada e apalhaçada rotina de sair de casa, apercebi-me que acabar frases também era impossível. Começava com a melhor das intenções. Era deste género: “Então, conta-me, que tal está a correr o trabalho… ohhh valha-me Deus (acompanhado de um saudável, e de um harmonioso balançar, caso estivesse de pé) que grande arroto!” Era muito estranho para as minhas amigas, e claro, completamente desnorteante para mim. Tudo isto ensinou-me o quão tangencial a minha mente podia ser, e ajudou-me a conhecer partes anteriormente desconhecidas do meu cérebro.
E por fim, o peito a verter leite! Não me refiro ao estranho gotejar – moderadamente aceitável para a perfeita e lindamente arranjada mãe que descrevi antes. Refiro-me a como se o chuveiro estivesse a fluir na sua potência máxima. Devo dizer que, nestes casos, ter um bebé para dar colo por perto deu muito jeito. Seja como for, quando olho para trás e penso naqueles tempos frenéticos, e muito cómicos, em que me iniciei na experiência da maternidade, tenho de me rir de mim própria. Passado um certo tempo, apercebemo-nos que tudo passa tão rápido que nos adaptamos e ficamos confortáveis com a nossa nova rotina, e arranjamos tempo para parecer, sentir e soar como nós próprias. Isso é importante. Sim, você agora é uma mãe, e também é, e vai continuar a ser, uma mulher muito interessante. Essa característica não vai desaparecer.