Oh sim! Aqueles fantásticos primeiros tempos só para si!

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que deixei a minha, na altura, pequena filha. Ela devia ter cerca de 5 semanas e eu fui ao cinema com uma amiga que estava grávida e tive 3 horas inteiras só para mim. O meu marido e eu falámos sobre o assunto antes dela nascer, de eu querer ter algum tempo para mim e cinco semanas era uma idade tão boa como qualquer outra para começar. Portanto tirei leite e preparei um biberão e, com alguma ansiedade, saí porta fora. O que mais me lembro é do sentimento de vitória, medo e alívio por ter conseguido fazê-lo.

Partilho esta informação convosco porque nos primeiros meses, depois de termos tido um bebé, parece que nos tornamos invisíveis, enquanto simultaneamente a nossa perceção de nós próprias está a mudar. Focamo-nos inteiramente neste ser minúsculo, tanto que nos esquecemos que nós também temos marcos, marcos esses que valem a pena ser festejados.

A primeira vez que sai sem o bebé

Não tem de ser durante muito tempo. Pode ser para ir ao supermercado, dar um passeio, mas frequentemente é para o primeiro tratamento de beleza após o parto. Pode ser ir à depilação, à pédicure, cortar o cabelo ou arranjar as sobrancelhas. Seja o que for, aprecie o momento. Planei-o, para conseguir saboreá-lo. Ter um plano retira alguma ansiedade por deixar o bebé. Deixar o seu filho com uma pessoa de confiança para ter algum tempo pessoal é positivo para si, para o bebé e para a sua relação. Esta é a única forma de manter as baterias carregadas.

Comer os alimentos proibidos durante a gravidez e beber álcool novamente

Ah! O sabor a álcool quase um ano depois! Tanto pode ser queijo azul, como peixe cru ou até mesmo aqueles ovos mal cozidos. Seja o que for, lembre-se que agora que os seus sentidos do gosto e do olfato se alteraram e à medida que as suas hormonas pós-parto estabilizam, pode não gostar de alguns alimentos como gostava anteriormente. Em relação ao álcool lembre-se que a sua tolerância baixou, por isso vai ficar "alegre" muito mais depressa. Ainda assim, faça uma pequena tentativa, experimente e planeie a sua pequena guloseima para a altura em que o bebé dorme mais, e sinta a emoção de recuperar uma pequena parte da sua vida tal e como ela era antes do sol da sua vida ter chegado.

A primeira vez que volta a ter relações sexuais

Esta situação pode ser complicada; sobretudo com uma vagina dorida e que ainda está a sarar. A cicatriz de uma cesariana, uma nova forma de corpo e a inabilidade para reunir energia para iniciar ou dar sexo em troca. Se após o período clinicamente recomendado de abstinência (normalmente 6 semanas) se sente excitada e lhe apetece ter relações sexuais, vá com calma. Vai ser uma experiência nova tanto para si como para o seu parceiro, por isso, tal como sempre, é boa ideia lidar com o sexo com algum sentido de humor. Uma exploração, mais do que um destino. Comece devagar, e reexplorem-se um ao outro, mas tal como várias coisas agora, pode ter de dar tempo para a chama voltar a acender-se. Aconselho os sábados à tarde enquanto o bebé faz a sesta.

A primeira vez que começa a sentir que é uma boa mãe

Este pode ser um sentimento tão fugaz mas avassalador. Aquela primeira vez em que automaticamente pega no bebé para o levantar sem qualquer hesitação, ou o deita de barriga para baixo nos seus joelhos pois sabe que ele adora. A mim aconteceu-me no quarto mês, andava com a minha filha no sling pela casa para conseguir fazer algumas tarefas domésticas e de repente pensei, “Sim, já tenho a solução!’  O sentimento não durou para sempre mas de repente tinha a minúscula prova adicional que eu era capaz, e que estava a fazer um bom trabalho como mãe, e mesmo não tendo conhecimento de todos os desafios que tinha pela frente, eu iria conseguir dar a volta… de algum modo.

A primeira vez que o seu bebé chora e finalmente entende o choro dele

Tenho de confessar que a linguagem do choro me deixava perplexa. Já tinha lido sobre o assunto em vários livros, que existe um choro diferente para cada necessidade. Deixem-me dizer-vos que nos primeiros três meses, a única coisa que eu sentia era ansiedade quando a ouvia a chorar. O que poderia ser? Calor, frio, cansaço, fome, birra, zangada, xixi, cocó, uma situação de vida ou morte? O que estava ela concretamente a tentar dizer-me? Acabei por perceber que um choro agudo era muito provavelmente um aviso para qualquer coisa, que por vezes ela chorava tão desesperadamente que parecia que o coração lhe ia saltar fora do corpo e que essa era a sua maneira de dizer ‘Está alguém aí?’

Mas levou-me algum tempo a perceber, e quando isso aconteceu, evidentemente, senti-me invencível – assim como decifrar o código Morse.

A primeira vez que sai com as suas amigas

Este é um grande marco. Sair com as suas amigas como nos velhos tempos, para aproveitar o mundo, normalmente com alguma comida, um copo de vinho ou um cocktail, e um vocabulário de fofocas que só nós compreendemos. Pode ser difícil sentir a falta da sua dose habitual de apoio nas primeiras semanas, sobretudo se for a primeira a ter filhos. Apercebi-me que o melhor é programar a agenda de forma tranquila. Quais as limitações que vai ter? Terá de sair mais cedo? Vai apenas conseguir fazer algumas ou todas as coisas que fazia antes? Só vai poder ir jantar e não vai poder tomar um copo depois e muito menos ir à discoteca? Também me apercebi que é melhor tirar leite suficiente para uma saída até tarde nessa noite ou até mesmo para a manhã seguinte. E, se puder, peça ajuda adicional para quando está extremamente cansada na manhã seguinte.

A primeira vez que consegue vestir as suas roupas anteriores à gravidez

Deixem-me dizer isto de forma direta. É capaz de levar algum tempo. Talvez um ano ou dois… ou até mesmo nunca. Sei que algumas mulheres se concentram nas cintas abdominais e em cirurgia pós-parto. Eu não fiz nenhuma das duas coisas, e devo dizer que levei dois anos a sentir que o meu corpo era meu novamente. Não era apenas a questão do peso, nem mesmo a barriga que parecia uma miséria durante muito tempo após o nascimento da minha filha. Era o facto do meu peito ter crescido, encolhido, ficado do tamanho normal, e encolhido de novo. Isto foi complicado e eu não lidei bem com o assunto, o que não ajudou em nada. Acabava por só procurar uma peça de roupa lavada, que não precisasse de ser engomada, e que me favorecesse naquele momento específico. Tentava estar o melhor que conseguia com aquilo que tinha, aquela foi uma lição difícil de aprender, mas acabou por retirar a pressão que eu sentia.

Estes são apenas alguns dos aspetos essenciais que me lembro, mas a maternidade é uma viagem individual.