Testemunho: Cláudia Duarte

Quando eles nasceram, tudo nasceu. Foi tão confuso, surreal, extraordinário e maravilhoso. O meu corpo soube tudo o que devia fazer, mesmo o meu consciente não percebendo bem ainda o que lhe competia. Munida de uma lucidez animal, sabia que os iria proteger, mas não pensava em amor. Não acredito nessa coisa de amor à primeira vista. Atração sim: sabia que os queria sempre junto a mim, apenas isso. Os nossos corpos estavam bem e sossegados quando juntos. Lá em casa, sem filhos, sempre fomos descontraídos e calmos. Rapidamente percebemos que, para bem da nossa saúde mental, teríamos que continuar a sê-lo e não foi difícil.

Uma das coisas que as pessoas mais nos perguntam na rua é "como é ter dois? Uma trabalheira, não?"

A resposta sai meio sem jeito, porque ter dois ao mesmo tempo é a única realidade que conheço. Dormem juntos desde o primeiro dia, foi-nos aconselhado assim e foi o melhor que fizemos. Nasceram no inverno, juntinhos no berço têm companhia e mais calor que os 2,200kg de cada um conseguia gerar, sozinhos. Foram sempre calmos (como quem diz, sempre conseguimos resolver os problemas que iam surgindo), começaram a sorrir cedo e adoram que cante para eles. Sempre adormeceram no berço, comem sempre ao mesmo tempo, sestas também mais ou menos sincronizadas. Noites completas de sono, assim que tivemos luz verde para deixar de lhes dar de comer a meio da noite.

Então ponho o meu sorriso número 5 e digo: sim, dá um bocadinho de trabalho, mas eles são tranquilos, tanto quanto um bebé consegue ser.

Não li muitos livros ou artigos da moda sobre parentalidade, li o suficiente que a minha preguiça de grávida permitiu e não stressei muito com o assunto. A conclusão das minhas parcas leituras mas sobretudo da atenção que prestei aos meus filhos foi a seguinte: os bebés precisam de comida, higiene e conforto, fralda limpa, amor, miminhos e colo com fartura e o resto é conversa. Connosco lá em casa, esta listinha resolve 99% dos problemas que possam surgir. Os restantes 1% estão no segredo dos deuses. Bebé gosta de espalhar charme ao ser um bocadinho misterioso também. Não posso dizer que é tudo perfeito, longe disso. Há dias melhores que outros, acho é que estou tão cansada como qualquer mãe recente, não por ter gémeos.

Agora já não é só animal. Ser mãe deles começou por ser vermelho, do sangue. Passadas as dores físicas e emocionais de todos os sustos e de um parto provocado e prematuro, já consigo dizer, com palavras, que os amo e que sou MÃE deles, com todas as cores do arco-íris.

Cláudia Duarte