Mãe pela segunda vez

Em novembro serei mãe pela segunda vez. Ou antes, sabemos lá quando decidem nascer! 
Estou verdadeiramente feliz. Com todas as dificuldades que o mundo atravessa, esta gravidez foi um pouco mais pensada, mas talvez muito mais desejada!

A primeira é sempre uma aventura. Lembro-me que comecei a pensar em “daqui a 10 anos”!  Daí a 10 anos eu já estaria nos 40 e qualquer coisa, portanto era hora de começar a ter filhos! O anúncio que viria aí um rebento foi, como seria de esperar, muito bem recebido pela família e amigos.

A gravidez foi passada como que em cima de nuvens fofinhas, tudo seria perfeito, dormiria bem, mamaria bem… tão ingénua que tu eras! Organizámos coisas, restruturámos a casa, supusemos situações, delineamos estratégias. Estava tudo controlado!

Eu existi a100% para toda a gente durante o tempo da minha gestação. Às 37 semanas o Tomaz decidiu que estava na hora que conhecer a família. Cheia de certezas e dotada de uma experiência que afinal não tinha, vi-me na maternidade, sem mala, porque não ia ser precisa para aquela consulta. Exerci o meu papel de filha. Telefonei à minha mãe e pedi para me vir entregar a dita!

Quando o meu filho mergulhou neste mundo, a minha médica gentilmente me disse: “Agora é que vão ser elas. Preparados?!” A aventura ia começar! Nasceu um filho, mas ali naquele instante, nasceu também um pai e uma mãe. Era o dia zero das nossas vidas e o pai já só queria o filho!

Das primeiras dores de ter um filho destaco as dores dos pontos. Só de me lembrar entro em transe. Foi das piores dores físicas que tive até hoje. A segunda maior dor foi a dor emocional da amamentação. Essa foi a minha verdadeira dor. Regresso a casa e a (não) rotina instalou-se de maneira caótica, louca.

Troca fralda, amamenta, não mama, faz biberon, dá banho, o banho dá-se todos os dias?, troca fralda, adormece, não dorme, tem cólicas, chora muito, troca fralda, adormece…

O Tomaz pura e simplesmente não mamava. Toda a gente tinha algo a dizer, uma opinião, sugestão, havia sempre um caso na família que tinha passado pelo mesmo e blá, blá, blá… Houve mesmo alguém que me pegou na mama para me “ensinar” a dar de mamar!

Comprei tudo o que existia para estimular o leite: bombas, mamilos de silicone, chá de funcho, cerveja preta sem álcool… De todos destaco a bomba, meu deus a bomba, eu já nem a podia ouvir, brommm, brommm, brommm, nem almofada abafava aquele som horroroso. O pai a perguntar a toda a hora “já usaste a bomba, já usaste a bomba?” e eu só pensava em enterra-la no jardim!

E depois as visitas: “mas ele tem de mamar, ele tem de mamar, o leitinho da mãe é o melhor” Nessas alturas lembrava-me da enfermeira que na maternidade me disse que um biberon de leite dado com muito amor também fazia milagres, enquanto me pedia calma!

Depois de muitas lágrimas desisti da amamentação. Fiz de tudo para que não tivesse de ser, mas a verdade é que nem eu nem o bebe estávamos bem. Toda esta situação e a fadiga natural do processo de mãe em formação fez-me concluir que ninguém, mas ninguém está preparada para ser mãe! Por muitos livros que se leiam, por muitas dicas que a Dra. Internet nos dê, tudo se torna prescindível na hora H.

É que às tantas ainda se tem de lidar com o pai, também em formação e que, entretanto, entrou em colapso porque não dorme há não sei quantos dias e precisa de trabalhar.

O primeiro mês e os restantes não foram fáceis! Não me venham dizer que nhó, nhó, nhó, porque não, não é fácil para ninguém! Mas tudo é ultrapassado a cada grama que o nosso filho ganha, cada expressão que desenha naquela carinha pequenina, até os cocós passam a ser motivo de alegria.

Durante o primeiro mês talvez morramos um bocadinho, mas a força que apanhamos para o balanço de uma nova etapa de vida faz com que tudo seja ultrapassado e essa é a verdadeira alegria da maternidade. O momento em que percebemos que somos fortes o suficiente para acompanhar os nossos filhos sejam quais forem as dores com que nos deparamos!