Histórias de mães solteiras

Esteja ou não numa relação convencional, ter um filho é uma experiência que muda completamente a sua vida. É uma festa de amor e alegria, mas por vezes é também avassalador e um desafio constante – para os pais solteiros, os aspetos positivos e negativos são a dobrar.

Pessoalmente, o casamento nunca foi uma possibilidade que estivesse em cima da mesa para mim e para o meu ex, aliás, nem sequer chegámos a viver juntos. Quando eu engravidei tive de confiar na palavra dele em como iria ser um bom pai. Felizmente, nunca renegou a sua promessa e tem sido sempre um enorme apoio (tanto a nível financeiro, como emocional). Quando o nosso filho nasceu a minha vida deu uma volta de 180º graus. Para ser honesta, mal consigo lembrar-me de outra coisa a não ser do imenso amor que sentia por aquela criança. Tal como a maior parte das mães, andei às apalpadelas durante os primeiros dois anos, aprendendo à minha custa a ser uma boa mãe (ou pelo menos a tentar sê-lo). Na segunda volta eu já estava numa relação mais convencional, a viver com o meu parceiro. Mas será que a experiência foi assim tão diferente? Para ser franca, não. Não foi nem mais fácil, nem menos cansativa, nem menos avassaladora. Para a maioria das pessoas, os primeiros anos da parentalidade são extremamente intensos. E a não ser que tenha amas permanentes, é assim mesmo que vai ser. Mais uma vez, o amor que sentimos por este novo ser é tão intenso que pode e faz de si uma super-heroína. Não há nada que eu não fizesse, literalmente, para garantir o bem-estar do meu filho, um sentimento partilhado pela maior parte das mães. Sei que não sou o estereótipo da típica mãe solteira, mas quem é afinal?

Outra mãe solteira muito pouco convencional, a Gail (com 40 e poucos anos) escreve:

“Existem tantas formas de uma pessoa ser mãe hoje em dia. Eu sabia que não queria acabar numa relação errada apenas para poder ter um filho e não queria acreditar quando um dos meus melhores amigos, que é gay, me disse que ele também gostava de ser pai. Dois anos depois temos um filho maravilhoso que adoro. Não vivemos juntos mas ele vê-o dia sim, dia não. Ele apoia-me em tudo o que diz respeito à minha vida e ao meu trabalho, adora ficar com a criança, tem muito gosto em cozinhar e limpar e até me compra sapatos… Quantos dos maridos das minhas amigas fariam isso?” 

Atualmente existem vários novos modelos de famílias: alargadas, contratadas, fluídas. 

Existem inúmeras razões para uma pessoa criar uma criança sozinha (acabamos a relação, seguimos em frente com a nossa vida, a morte). Ainda assim, as conservadoras convenções sociais tendem com frequência a estigmatizar as mães solteiras, como se o estado em si sabotasse a capacidade da pessoa para providenciar um ambiente estável e educativo para os seus filhos. A escritora Kate Roiphe afirma:

“É útil e humilde lembrar que não existe estrutura familiar que garanta a felicidade nem que assegure a tristeza”. 

Infelizmente, aquilo que mais prejudica as crianças são a pobreza e os ambientes emocionalmente instáveis, pois tudo depende essencialmente da situação financeira de cada um e várias mães solteiras encontram-se aprisionadas num ciclo de carência.

Não podemos negar os sentimentos de deceção, dor e tristeza que estão envolvidos quando uma relação termina para sempre; sobretudo quando a pessoa queria e tinha esperança de partilhar o futuro com o seu agora ex. A dor associada a esta situação é real e vai precisar de tempo para recuperar emocionalmente. Se o seu ex faz tenções de partilhar responsabilidades existem também as constantes negociações para chegar a um acordo relativamente à pensão e à manutenção da criança, bem como o regime de visitas.

Podem parecer obstáculos insuperáveis, mas com o tempo estes impedimentos serão ultrapassados.

Nessa, mãe de 3 filhos, afirma:

“É difícil ser otimista em relação ao divórcio, mas o que posso dizer é que as minhas amigas são agora o sentido da minha vida. Nos últimos 18 meses chorei e ri – mais do que durante os 5 anos do meu casamento. Estou viva – ser solteira novamente é uma verdadeira aventura!”

Confie em si própria, reconheça as suas emoções e nunca tenha receio de pedir ajuda. Se tem família por perto, aceite a sua colaboração. Se tem amigos que estão na disposição de a ouvir, fale. Contacte grupos locais de apoio e aceda aos benefícios a que pode ter direito. A maternidade pode ser isoladora mesmo para as pessoas que estão numa relação, por isso tente libertar-se. Existem vários ginásios com creches e muitas bibliotecas têm um espaço onde ficam com as crianças. Informe-se sobre as atividades da sua Junta de Freguesia. Tenha a certeza que se permite tempo para si própria. Isto pode ser difícil nos primeiros dias. Lá está, mais uma vez é difícil para todas as mães, por isso dê tempo a si própria para criar uma relação com o seu bebé antes de regressar ao trabalho. Tem de compreender que para o seu filho você é a pessoa mais importante no mundo – cuide-se e trate-se bem. Tenha presente que este é o início de uma nova vida, um novo capítulo e não o fim.

Lembre-se:

  • Estar numa relação não garante o tipo de pai que os seus filhos têm (bom/mau).
  • Estar numa relação não é o bálsamo para a felicidade ou para uma vida idílica.
  • Estar numa relação abusiva não é bom nem para si nem para o(s) seu(s) filho(s).
  • E se for mãe solteira? Certamente não está sozinha. 35,7% dos nascimentos em 2011 foram de mulheres não casadas, com idades compreendidas entre os 15 e os 50 anos.
  • Pode ser mãe solteira e feliz.
  • Pode ser progenitora a tempo inteiro e ter relações íntimas e confortáveis com os outros.
  • Pode ser mãe solteira e voltar a apaixonar-se. 
  • A vida está repleta de surpresas, momentos de êxtase, de depressão, altos e baixos. Ser progenitora, numa relação tradicional ou não, exige dedicação, tempo e muito trabalho.

“Talvez não controle tudo o que lhe acontece, mas pode decidir não ser reduzida por isso.” 

Maya Angelou