“Para mim... grávida” – Coisas que eu gostaria de ter sabido há nove meses atrás

Se gostava que me tivessem dito a verdade?

Ai, ai, o que realmente me emociona, quando olho para trás, é como a realidade do parto, como aquele parto doloroso foi totalmente embelezado. Quem é que acredita mesmo que aconselhar uma mulher a visualizar-se a expulsar um ramo de rosas lindas, funciona quando contrações começam? É que quando elas começaram nunca senti uma dor tão forte e tão profunda e não tive outro remédio a não ser entregar-me aos medicamentos. O parto doeu. Doeu muito.

Se me lembro do Plano de Parto, aquele pedaço de papel onde escrevi o que esperava para um parto natural sem medicamentos (de preferência dentro de água), um parto sem intervenção médica, sem rasgões ou lágrimas? Parece uma coisa tão ingénua, em retrospetiva. Há algum parto que ALGUMA VEZ corra conforme planeado? Não sei... mas é claro que há mulheres que conseguem aguentar a dor e ter uma imensa sensação de realização ao ter um parto natural. Admiro-as muito, mas muitas estreantes não têm tanta sorte. Foi o que me aconteceu a mim e a tantas outras e muitas acharam o sofrimento do parto algo desnecessariamente traumático ou, pior, sentem-se culpadas por não terem sido suficientemente mulheres para aguentar um parto natural. Agora que olho para trás, se estamos num ambiente médico a realidade normal é que ocorram intervenções médicas, mas se estamos determinadas a ter um parto natural, temos que nos certificar que estamos física e mentalmente preparadas para tal.

E tu, “Querida Grávida”, acreditaste, não foi? A atração pelo lucro, a comercialização da gravidez, da maternidade e do parto…todas aquelas coisas imprescindíveis...Algo que tens mesmo, mesmo de ter...Não tens. É tão fácil cair nesse mundo. Se tens hipóteses para isso, fá-lo, mas se tens mais restrições financeiras só há duas coisas de que o teu bebé precisa: amor e alimento. Eles querem lá saber se estão ou não vestidos com as melhores marcas ou se andam nos carrinhos mais caros.

Depois, há aquele misterioso desaparecimento do tempo que nunca ninguém nos explica completamente antes do parto. Depois de termos o bebé nos braços o tempo escapa-se por entre os dedos. O tempo voa e antes de acabarmos de lavar, vestir, alimentar e mudar a fralda ao bebé, metade do dia já se foi. Tal como tu...ou pelo menos o “tu” que achas que és.

Tu já não existes: tudo se concentra no bebé. Fisicamente, já praticamente nem te reconheces - entras numa crise existencial, as lágrimas correm, despoletam-se as hormonas, chega um conjunto de recompensas emocionais e a exaustão. Sim, vai-te ser apresentado um tipo de cansaço como nunca tiveste (apesar da euforia inicial que se apoderará de ti nos primeiros dias). Sabes? É que nunca nada te atraiu como esta pessoa pequenina que tens nos braços e é tão hipnotizante que mesmo que seja a criança mais feia que alguma vez nasceu, o teu bebé será sempre lindo para ti.

Por falar em lindo e em ti: o que aconteceu? O que aconteceu foi que achaste que estavas a comer por dois! Acreditaste que o peso desaparecia por magia porque ias dar de mamar mas não desapareceu, ainda não desapareceu. “Querida Grávida”, antes que seja tarde demais: afasta-te dos doces! Tenho duas coisas muito importantes para te dizer: primeiro, deixa de te preocupar com qualquer coisa que não sejas tu e a tua família. Pelo menos, por algum tempo. Sê egoísta, não tentes agradar aos outros, não te preocupes com o que os outros vão pensar sobre as tuas escolhas. Aceita que a tua maneira de fazer as coisas é só tua e do teu bebé e segue em frente. Segundo: não sejas uma mártir, permite-te cometer erros, ser um pouco menos do que perfeita, e ir aprendendo com a prática. Às vezes, podes até ter de deixar o bebé chorar.

“Querida Grávida”, tens de saber que esta é a aventura mais maravilhosa em que alguma vez embarcaste. E se o teu mundo parece encolher, é só uma fase. Ser mãe é renascer, vais olhar para a vida com outros olhos. Podes começar de novo. Apesar da falta de tempo tu percebes como isso é precioso. Estás sem palavras com o milagre da vida e apercebes-te de que não há nada mais importante do que criar uma vida e o privilégio que é - sim, um privilégio - poder orientar essa vida, até estar pronta para viver sozinha. Depois há o amor, um AMOR ENORME. Vais viver um amor tão intenso e profundo que não tem comparação possível. Nunca ninguém precisou tanto de ti, ou te amou tanto e vice-versa. A maternidade define-se em muitas palavras: avassaladora, mas fenomenal, ingrata, mas compensadora, incansável, mas verdadeiramente inspiradora. “Querida Grávida”, bem-vinda ao mundo tão real (e surreal) da Maternidade, uma viagem alucinante como nenhuma outra! A mais feliz da tua vida!

Aproveita!

Por uma grávida, mãe, mulher…

P.S.  Estás a sair-te lindamente!