A carreira depois de um bebé

“A minha vida profissional foi moldada pela existência dos meus filhos. Escolhi empregos com base na capacidade de o empregador ser flexível.” (1)

A maior parte das mulheres trabalham, algumas por necessidade financeira, mas muitas porque realmente adoram fazê-lo e consideram que é algo que define a sua identidade. Para além da independência financeira, há uma valorização pessoal, e a possibilidade de usarem as suas competências. Longe vão os tempos em que o papel das mulheres era acessório: atualmente as mulheres controlam um valor de cerca de dez mil milhões de dólares do consumo global. (2)

A pergunta que se coloca é se vai querer regressar ao trabalho quando acabar a sua licença de maternidade. Muitas vezes, uma mulher que previa, com muita certeza, que ao fim de seis meses estaria de volta à sua secretária, pode dar por si a recear a aproximação desse dia. A sua cabeça parece um ratinho numa roda de exercício, pensando se consegue manter a amamentação, quem vai tomar conta do bebé, se está preparada para o deixar ao cuidado de estranhos...ter um bebé é um acontecimento importantíssimo e a maior parte das mulheres querem e precisam de se retirar do mundo para o enfrentar. Aquelas tarefas que pareciam simples, como pagar contas, passear o cão ou até vestir-se antes do meio-dia, podem tornar-se impossíveis. Desejamos que o mundo desapareça e só regresse quando estivermos preparadas para lidar com ele.

Neste caso é útil manter os contactos da sua vida profissional. Pode acabar por fazer algo completamente diferente, mas precisará de se apoiar nos recursos do seu passado. Pode estar legalmente obrigada (pelo menos a curto prazo) a voltar de novo ao trabalho. Isso não é o fim do mundo. A vida com o(s) seu(s) filho(s) tem novas fases que estão sempre a evoluir. É importante manter a sua identidade independentemente dos seus filhos. Isso pode ser conseguido através do seu emprego, de um trabalho próprio ou até de fazer voluntariado.

Perguntou-se a algumas mães trabalhadoras se se sentiam apoiadas no seu regresso ao trabalho:

“Sim, embora seja difícil com uma equipa jovem e maioritariamente sem filhos. Já não estou disponível a toda a hora. Há uma cultura de trabalhar até tarde, coisa que eu só posso fazer com a devida antecedência e preparação.” (3)

Com a Internet e o e-mail permanentemente disponíveis nos nossos vários aparelhos é quase sempre possível trabalhar à distância, o que de certa forma é um presente envenenado. Pode acontecer que se espere que uma mãe esteja permanentemente disponível.

“Tenho de fazer muito trabalho não remunerado (ver os e-mails, por exemplo) à noite. Apesar de eu agora só estar a trabalhar três dias por semana, ninguém me substitui nos outros dois dias, por isso eu tenho de conseguir dar vazão a esta quantidade imensa de trabalho o melhor que consigo.” (4)

Pode significar que já não tem tempo para descansar, daí ser boa ideia discutir as expetativas que existem e definir os limites com o seu empregador.

Também pode ser difícil concentrar-se a 100%. O trabalho torna-se irrelevante quando estamos a tentar perceber se a tosse do nosso filho pode evoluir para algo mais grave. A preocupação deve ser partilhada por ambos os pais e muitas vezes é, mas é mais habitual ser uma característica das mães. Como consequência, muitas mulheres são preteridas em caso de promoção, antes até de terem os filhos, presumindo-se que não vão estar igualmente empenhadas no trabalho. Pensemos nas capacidades que as mães adquirem: negociação, paciência, saber ouvir, perceção, capacidade para desenvolver múltiplas tarefas em simultâneo – tudo mais-valias em qualquer ambiente de trabalho. Há passos a serem dados na direção certa, com grupos como o Mothers of Innovation, um fórum cujo objetivo é juntar mães trabalhadoras de todo o mundo. Estas mulheres desenvolveram iniciativas sociais, produtos e empresas inovadoras e todas compreendem que as capacidades que desenvolveram enquanto mães as ajudaram bastante na sua vida.

Voltar ao trabalho ou ser mãe a tempo inteiro são ambas opções completamente válidas, mas as mulheres deparam-se com uma enorme variedade de opiniões sobre o assunto, que vêm de todos os lados: família, amigos, comunicação social, e claro, as suas próprias ideias e desejos quanto ao que devem fazer. A ministra francesa Rachida Dati despoletou um grande debate em 2009 quando regressou ao trabalho cinco dias após dar à luz. Alguns aplaudiram a sua decisão, outros compreenderam que provavelmente não tinha muita alternativa tendo em conta o seu cargo e outros apressaram-se a rotulá-la de mãe negligente. Algumas das críticas mais duras vieram de outras mães. É uma pena que com tantas possibilidades para usufruir da maternidade as escolhas das mulheres sejam lançadas umas contra as outras e alimentadas pela comunicação social. Se está dividida em relação ao que deve fazer, a resposta, tal como a maior parte das coisas que dizem respeito às crianças, é descontrair e esperar. O que sente logo a seguir ao parto não é o mesmo que vai sentir passados alguns meses ou anos. As primeiras semanas podem parecer um abismo no tempo, mas na totalidade da sua vida é uma pequeníssima parte.

(1) Catherine, Organizadora de Eventos, Pesquisa independente

(2) Future Female All Report

(3&4) Kathryn, Artista Digital, Pesquisa independente