Bebés prematuros: O que há para saber?

Todos os dias, nascem 17 bebés prematuros em Portugal. O número corresponde a apenas 8% do total de partos concretizados em território nacional e talvez seja por isso que o tema não ocupa a maior parte das discussões que se geram em torno da gravidez. Até porque quando se sonha com a maternidade e tudo o que a ela diz respeito, sonha-se também com uma criança forte e saudável que tendemos a proteger e a não relacionar com cenários de maior fragilidade. Mas a experiência diz-nos que o idílico nem sempre se torna real. E apesar de ansiar com o momento em que se junta ao seu filho, é melhor estar alerta para todos os percalços que podem surgir até lá. Falemos então sobre prematuridade.

O que é um bebé prematuro?
Qualquer bebé que nasça antes das 37 semanas de gestação é considerado prematuro. No entanto, dentro desta condição, existem várias categorias que ajudam as equipas médicas a adaptarem os cuidados que prestam ao bebé. Neste capítulo, a idade gestacional e o peso orientam a classificação do nível de prematuridade.
Dentro da primeira variável, temos os prematuros pré-termo limiar, que nascem com idade gestacional compreendida entre as 33 e as 36 semanas; os prematuros moderados, que nascem com 28, 29, 30, 31 ou 32 semanas de gestação; e os prematuros extremos, que nascem com menos de 28 semanas. A esta avaliação soma-se ainda a que é feita pelo peso. Com 1,5 kg a 2 kg, os bebés são considerados prematuros de baixo peso; com menos de 1,5 kg, mas mais de 1 kg, são prematuros de muito baixo peso; abaixo de 1 kg, são de extremo baixo peso.
Estas características dão um aspeto frágil e vulnerável ao bebé que, nesta fase, apresenta ainda outros pormenores que não se observam nas crianças não prematuras. Falamos da pele fina e das veias que, por isso mesmo, se tornam visíveis a olho nu. Falamos das orelhas frágeis, da respiração irregular e da cabeça desproporcional. Tudo isto forma um cenário pouco comum com potencial para impressionar os progenitores, principalmente numa fase tão sensível das suas vidas.

Os primeiros dias.
Uma vez que a condição de prematuridade acarreta vários problemas de desempenho fisiológico, os bebés prematuros têm de ser acompanhados nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais. Isto porque, em menor ou maior grau, os bebés prematuros revelam dificuldades para cumprir funções básicas. A ciência explica que as dificuldades são proporcionais ao tempo de gestação - quanto menos tempo passou na barriga, menos aptidões tem a criança para desempenhar essas tarefas.
As complicações, explicam os médicos, revelam-se sobretudo em três áreas: o controlo da temperatura corporal, a respiração e a alimentação. É por isso importante impedir a perda de calor corporal, estimular o desenvolvimento pulmonar para garantir a boa respiração do bebé e a nutrição endovenosa. Nesta altura, o leite materno ainda não é aceite viaoral, uma vez que o bebé não tem reflexos de sucção.

O impacto da prematuridade nos pais.
Atualmente, já é possível compreender a probabilidade de uma gravidez terminar com um parto antes do tempo, mas as complicações que decorrem desta condição médica continuam a impactar os progenitores, com diversos casos de stress pós-traumático a serem registados nos pais e mães de prematuros. A condição revela-se em várias formas e feitios. Pode traduzir-se em pesadelos recorrentes ou recordações obsessivas, ataques de pânico despertados por estímulos auditivos ou visuais particulares. Nestes casos, os traumas somam-se e agudizam o estado psicológico dos pais. O parto prematuro, que muitas vezes é decidido de maneira inesperada, é o primeiro impacto. Depois somam-se os procedimentos médicos, o risco de vida e as experiências semelhantes que ocorrem diante dos seus olhos na unidade onde são prestados oscuidados à criança. O período de prematuridade também pode originar uma catadupa de más notícias. E mesmo quando tudo passa, os pais são obrigados a digerir a tensão a que toda aquela fase deu aso.
A ciência diz-nos que o stress pós-traumático é igualmente frequente em ambos os sexos. No entanto, os pais costumam revelar sintomas alguns meses depois do parto, altura em que as mães estão já em vias de recuperação.

Há forma de prevenir a prematuridade?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são 15 milhões de bebés que nascem prematuros, por ano, em todo o mundo, o que equivale a 10% do total de nascimentos. Mais de 1 milhão termina em óbito. Os demais sobrevivem graças ao desenvolvimento da medicina. Mas esse mesmo desenvolvimento permite hoje que a mulher realize uma série de exames e tratamentos para que consiga levar a gravidez até, no mínimo, à 39ª semana - idade gestacional em que o risco de constrangimento respiratório no bebé é reduzido.
Certamente que alguns casos de prematuridade não podem ser evitados, mas identificar gestantes de risco é a forma mais eficiente de prevenir eventuais nascimentos prematuros. Quando isto acontece, são feitos os exames necessários ao acompanhamento do tamanho do cérvix, que está diretamente relacionado com a provocação do parto.
Quando se percebe que comprimento do colo do útero está a diminuir rapidamente, há algumas medidas de prevenção do parto que devem ser tomadas o quanto antes, como o repouso domiciliar ou hospitalar e a ingestão de soluções que evitam as infeções vaginais e o relaxamento uterino, ao mesmo tempo que estimula a maturidade pulmonar.
Outro transtorno que também pode causar a prematuridade é a insuficiência do colo uterino, que acontece quando o canal cervical não tem capacidade de suportar o peso da gravidez sem se dilatar.

O que identifica uma grávida de risco?
Existem vários fatores de risco que aumentam a probabilidade de prematuridade, como malformações fetais, recurso a técnicas de procriação medicamente assistida, disfunção dos vasos sanguíneos e descolamento da placenta. Em alguns casos, os médicos conseguem identificar altas probabilidades de prematuridade quando estes fenómenos são detetados a tempo.

A importância da proximidade.
Apesar de todo o aparato clínico, os pais devem manter-se por perto. Mesmo sem conforto, nem privacidade, devem ser criados laços nos espaços e tempos em que a interação é possível. Nestes casos, a voz, o toque e a presença são muito importantes. Alguns estudos indicam que a proximidade não só contribui para o bem-estar do bebé, como para a sua recuperação. O efeito pode parecer quase espiritual, mas são os próprios médicos que sublinham que as experiências sensoriais podem melhorar a condição final destes bebés.